De 4 a 7 de setembro a cidade de Búzios (RJ) sediou o XXII Congresso Brasileiro da ABEAD (Associação Brasileira de Estudo do Álcool e Outras Drogas), que focou o tema “Controvérsias em dependência química: Ciências e Sociedade discutem”. A Comunidade Terapêutica Rural Santa Carlota, um serviço do Instituto Bairral de Psiquiatria, esteve presente na pessoa de seu coordenador técnico Maurício Landre.
Segundo Maurício, esse talvez tenha sido o congresso da ABEAD que mais inovou e surpreendeu os participantes nos últimos tempos, tanto pelo tema quanto pelo conteúdo, que deram tom e facilitaram a discussão saudável e atual sobre a questão das drogas e, de fato, o que percebemos na realidade, quando procuramos informações e tratamento para o abuso e dependência de drogas e álcool.
Ao tratar as controvérsias que existem em relação à dependência química, não só foram disponibilizados dados baseados em evidência comprovada como também experiências bem sucedidas com algumas alternativas terapêuticas disponíveis e diferenciadas, como, por exemplo, as comunidades terapêuticas e o tratamento por meio de técnicas orientais de meditação e visão do ser humano sob outras perspectivas além da médica e clínica.
No dia 4, no período da tarde, foram realizados cinco cursos, os quais trouxeram dados e experiências importantes em relação aos desafios e políticas públicas sobre álcool e drogas:
- Crack: Desafios do Tratamento. Coordenado pelo Dr. Carlos Alberto Iglesias Salgado (RS)
- Maconha: Um Desafio Persistente. Coordenado pelo Dr. Sérgio de Paulo Ramos (RS)
- Tratamento do Tabagismo: Suplantando as Principais Barreiras. Coordenado por Sabrina Pressman (RJ)
- Como Preparar uma Política de Atenção e Prevenção de Álcool e Drogas nas Empresas. Coordenado por Ana Cristina de Melo e Souza (RJ), Joaquim Ferreira de Melo Neto (RJ) e Selene Franco Barreto (RJ)
- Comunidades Terapêuticas: Evidências e Experiências. Coordenado por Maurício Landre (SP)
Este último, específico sobre comunidades terapêuticas, foi preparado e coordenado por Maurício Landre, Assistente Social, Especialista em Dependência Química pela UNIFES e Coordenador Técnico da Comunidade Terapêutica Rural Santa Carlota, um programa resultante de parceria público-privada entre a Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo e o Instituto Bairral de Psiquiatria.
Ao expor o seu tema, Maurício ressaltou que a experiência de um ano de funcionamento da CT Santa Carlota vem demonstrando que as comunidades terapêuticas bem estruturadas, com equipe capacitada e recursos para gerir um bom programa, podem dar resultados excelentes por um custo reduzido, sendo capazes de atender à demanda reprimida de pessoas que buscam um programa de reabilitação psicossocial de médio e longo prazo, capaz de auxiliar os dependentes a reorganizar suas vidas e encontrar recursos internos para uma reinserção e reintegração social saudável.
A solenidade de abertura do evento foi marcada pela reaproximação mais que oportuna entre a Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas – ABEAD e a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD. O Secretário deste último órgão, Dr. Vitore Maximiliano, encarregou-se da palestra inaugural e nela demonstrou estar atento aos acontecimentos que assustam as famílias e os órgãos públicos, bem como às discussões acaloradas que estão ocorrendo no Congresso Nacional e na área do Executivo. Afirmou com clareza e convicção a postura contra a liberação da maconha e outras drogas e colocou-se à disposição da ABEAD e das instituições de ensino e pesquisa para que seja ampliada a produção de dados referentes a questões que envolvem o consumo, abuso e dependência de substâncias.
Da mesa-redonda que aconteceu na tarde do dia 6 de setembro, com o tema “Comunidades terapêuticas: por que não param de se multiplicar?”, tomaram parte junto com Maurício Landre o Dr. Ronaldo Alves Carvalho, médico do Caps de Bagé (RS) e Hilson Cunha Filho, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – CESNOVA, de Portugal. Hilson mencionou o êxito da experiência portuguesa de incorporar à rede de equipamentos dos serviços de saúde de Portugal as comunidades terapêuticas, cujo processo percorreu o mesmo caminho daquele que vem acontecendo no Brasil, decorrente de uma epidemia de crack (em Portugal foi de heroína), pela via política e tentando resolver emergencialmente as consequências extremamente nocivas aos usuários e também aos familiares e à sociedade. A enorme diferença entre as estratégias e a realização das parcerias e construção da rede se dá pela velocidade em que foram cadastradas, equipadas e capacitadas todas as alternativas de enfrentamento e a construção da política nacional e da rede de atenção sobre drogas. Muito dessa diferença de velocidade se dá pela participação ativa do Estado e das dimensões populacionais e diferenças regionais de nosso País; só a título de informação, a população de Portugal é equivalente à população da cidade de São Paulo: qualquer comparação que queiramos fazer entre políticas e estrutura, se não levarmos em consideração essas diferenças – somadas às culturais – não há espaço para uma reflexão coerente.
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