A atividade do Centro de Estudos Psiquiátricos Américo Bairral (CEPAB) do mês de julho contou com a participação do psiquiatra da infância e adolescência Dr. Fernando Zezza, mais uma das “pratas da casa”, que trabalha no Recanto, uma das unidades de tratamento do Instituto Bairral, e palestrou sobre o tema “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDHA) ao longo da vida”. O referido profissional brindou o público presente com informações de ponta e evidências científicas atualizadas. Sobretudo, esclareceu os famosos mitos midiáticos e distorções ideológicas que frequentemente e de forma errônea se propagam sobre o tema, os quais tendem a aumentar preconceitos, estigmas e retardar a busca por um tratamento adequado.
Entre os pontos mais importantes destacados pelo palestrante vale a pena mencionar: TDHA não é uma doença nova e inventada pela indústria farmacêutica. Desde 1902 a condição foi pela primeira vez descrita, e desde então é um dos transtornos que mais têm recebido investigações científicas dentro da medicina psiquiátrica. É uma condição crônica, que começa na infância e pode persistir pela vida adulta. Em geral, acarreta diversos prejuízos nas esferas escolar, familiar, acadêmica, laboral e conjugal. Em 70% dos casos há uma comorbidade associada.
Entre as comorbidades graves está o uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas. TDHA não tratado aumenta em até duas vezes as chances de desenvolvimento de dependência química. O diagnóstico clínico correto nem sempre é tarefa fácil, mas deve ser feito com bastante parcimônia, explorando os diversos contextos (casa, escola, trabalho) nos quais o indivíduo está inserido. A utilização de testes neuropsicológicos e psicopedagógicos pode auxiliar a elucidar o diagnóstico diferencial. O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5 ( DSM V) trouxe algumas modificações no número de critérios (baixou para 6) de hiperatividade ou desatenção para se fazer o diagnóstico, e os sintomas podem estar presentes antes dos 12 anos e não mais apenas antes dos 7 anos de idade. Não existe na verdade uma hipermedicalização de crianças, e sim crianças e adolescentes com diagnósticos inadequados. A terapêutica por meio do uso dos psicoestimulantes segue sendo o principal recurso terapêutico do tratamento, mas o uso de intervenções comportamentais e psicoeducação tende a maximizar os resultados positivos.
O Dr. Fernando comentou também as principais medicações disponíveis no mercado, os efeitos colaterais, modo de uso, precauções e possibilidades de primeira e segunda linha. Também ressaltou a falta de uma política pública para estes indivíduos, que hoje representam em média cerca de 5,6% da população, e a necessidade de reformulação de estratégias que tendem a poupar custos diretos e indiretos quando o TDHA é devida e adequadamente tratado.
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