“É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”.
Com esta frase do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o médico residente Rafael Pereira da Silva e a coordenadora de psicologia Marina Caversan Oliveira de Souza iniciaram uma verdadeira jornada pela história de vida de um dos maiores nomes da música do século XX: John Lennon.
Nascido John Winston Lennon, os eventos adversos aos quais fora exposto durante toda sua vida se iniciaram logo ao nascer, já que em 9 de outubro de 1940 sua cidade de nascimento, Liverpool (norte da Inglaterra), encontrava-se em plena vigência dos bombardeios alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Figuras paternas ausentes e instáveis, seguidas perdas irreparáveis de pessoas amadas, comportamentos caracterizados por condutas socialmente inapropriadas, incluindo início precoce de uso de substâncias como álcool e o tabaco (precursores de seu uso futuro de substâncias psicoativas como LSD, heroína e maconha), ocorriam paralelos à formação de uma personalidade extremamente criativa, carismática, impulsiva, sensível à possibilidade de abandono e instável. Tudo muito, muito intenso, para o bem ou para o mal…
Utilizando-se de registros de fatos vividos pelo artista, composições e relatos (por vezes chocantes) de pessoas próximas, permeados por conceitos psicodinâmicos como mecanismos de defesa do ego e conflitos intrapsíquicos frutos principalmente de uma relação conturbada com sua mãe, foi-se possível investigar e, apesar das naturais limitações deste tipo de exercício, classificar nosologicamente seu quadro de acordo com conceitos atuais contidos no DSM-V. Além disso, um considerável acervo de imagens e trechos musicais colaboraram com essa imersão na vida e obra desse verdadeiro gênio da música, que também tinha seu lado humano, falho, sombrio…
Mais uma vez uma reunião do CEPAB mostra o quão fascinantemente a arte pode nos auxiliar na compreensão do ser humano. John Lennon, com suas criações, serve de grande exemplo para a aplicação de métodos psicopatológicos como o da psicologia da obra do psiquiatra e filósofo alemão Karl Jaspers. Lennon expunha de forma claríssima seus sentimentos através de suas composições, permitindo-nos entender melhor suas vivências, como nem sempre quem procura por auxilio profissional poderá expor. Assim, desfrutar atentamente de suas músicas pode tornar cada um mais empático e próximo do mundo interior daqueles que guardam ‘um caos dentro de si’.
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