Os pacientes somatoformes são aqueles que apresentam sintomas múltiplos que sugerem doenças em vários sistemas, todos inexplicáveis do ponto de vista médico. O uso excessivo de serviços médicos e consulta a vários especialistas é frequente nesse grupo de pacientes.
Existe uma distinção dos transtornos somatoformes e duas grandes síndromes foram descritas:
- Monossintomática (transtorno conversivo) – Apresenta tipicamente um sintoma, que transparece ser condizente com alterações do sistema nervoso central ou periférico. Como exemplo: pacientes com dificuldades de coordenação motora, ou perda da voz, pseudo convulsões, entre outras.
- Polissintomática (transtorno de somatização) – Apresenta múltiplos sintomas que se assemelham a várias alterações dos sistemas orgânicos. Como exemplo: dor de cabeça, dor abdominal vaga ou mal localizada, dor muscular, lombar, no peito, entre outras. Embora os sintomas de conversão possam estar presentes no transtorno de somatização, eles são sempre acompanhados por vários outros sintomas.
Em ambos os tipos não se constata nenhuma alteração em exames laboratoriais ou de neuroimagem que possam explicar os sintomas tanto do sistema nervoso central quanto de outros órgãos.
No nosso texto vamos nos ater aos transtornos conversivos. A expressão transtornos conversivos ou dissociativos designa um grupo de transtornos antes conhecidos como histeria. Apesar de o termo “histeria” não mais fazer parte da nosografia psiquiátrica atual, ele permanece popular, referindo-se tanto ao processo de dissociação psíquica como quadros de conversão.
Atualmente, os transtornos conversivos se caracterizam por perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade, das sensações imediatas e do controle dos movimentos corporais. Os diferentes tipos de transtornos tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. Alguns podem se cronificar, produzindo complicações permanentes.
Nos transtornos conversivos, os conflitos psíquicos são transformados em sintomas físicos, condensando e focalizando idéias, modelos de papéis e significados em um ou vários sinais ou sintomas de disfunção física. Não são voluntários, pois os mecanismos deflagradores são inconscientes. Os sintomas de conversão parecem representar, simbolicamente, o que o paciente é incapaz de dizer ou fazer.
A prevalência para toda a vida é de 0,01% a 0,5%; a maioria dos pacientes é constituída de mulheres de 2 a 10 vezes, em relação aos homens. O início se dá tipicamente na adolescência ou no começo da idade adulta.
O estresse psicológico está quase que invariavelmente presente em pacientes conversivos. Histórias de trauma, abuso sexual ou físico e experiências estressantes podem ser fatores precipitantes.
A ausência de uma doença física é uma condição necessária, mas insuficiente para diagnosticar esse transtorno. O diagnóstico deve ser suspeitado quando o paciente apresenta perda ou alteração funcional, sugestiva de um transtorno médico ou neurológico, não podendo, no entanto ser explicada por estes ou outros transtornos médicos conhecidos.
O diagnóstico deve ser feito por exclusão de doenças clínicas e pela presença de sintomas conversivos. Também, com uma boa história clínica além de exame físico detalhado, enfatizando o sistema neurológico.
Casos de início agudo, precipitado por eventos estressantes identificáveis e sem comorbidade psiquiátrica, têm bom prognóstico.
Em relação ao tratamento, uma cuidadosa avaliação clínica é recomendada. Também uma anamnese detalhada, com exame físico minucioso, além da solicitação criteriosa dos exames subsidiários.
Explicações do tipo “não há nada de errado”, “são coisas de sua cabeça” desconfirmam as queixas do paciente, fazendo com que se sinta ignorado e rejeitado, resistindo a receber outras explicações. Para o sucesso do tratamento é importante que o profissional propicie um ambiente de acolhimento para o paciente, sem confrontá-lo ou ignorar suas queixas.
Aqui no Instituto Bairral a unidade que acolhe esses pacientes é o Mirante. Com uma equipe multidisciplinar, oferece atividades esportivas, terapia ocupacional e grupos terapêuticos. O tratamento médico consiste em esclarecer o diagnóstico e fazer prescrição medicamentosa sintomática. E apoio psicológico em identificar os fatores estressores que mantêm os sintomas disfuncionais do paciente.
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Autores:
Dr. Sérgio Augusto Monteiro dos Santos (Médico Psiquiatra do setor Mirante)
Priscila Jacheta Lauri (Psicóloga do setor Mirante)
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