O termo demência vem do latim, “de+mentia”, que significa “ausência de mente”. Portanto, o conceito de demência está ligado à decadência progressiva das funções intelectuais.
Em 1906 Alois Alzheimer descreveu um interessante caso de demência pré-senil, tanto do ponto de vista clínico como anatomopatológico. Foi em sua homenagem que se deu o nome atual à forma de demência mais comum. Ele foi o primeiro a descrever alterações histopatológicas específicas (denominadas placas senis e novelos neurofibrilares) e a associá-las a essa doença.
O diagnóstico da demência tipo Alzheimer é feito quando está presente quadro clínico caracterizado por declínio cognitivo global, sem distúrbio da consciência, de início habitualmente insidioso e piora progressiva, que interfere nas atividades de vida diária do paciente. Outras condições causadoras de demência devem ser excluídas (hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, AIDS, doenças neurológicas).
Inicia-se com alterações de memória, atingindo também a atenção, e progressivamente compromete a praxia (capacidade de executar atos motores simples ou complexos), a gnosia (capacidade de reconhecer faces ou objetos) e a linguagem (o paciente passa a ter dificuldade em nomear objetos, executar a palavra e/ou compreender a palavra falada). Desse modo, as pessoas com Doença de Alzheimer perdem a habilidade para lidar com dinheiro, para dirigir, cozinhar, depois deixam de ter habilidade para comer, vestir-se, tomar banho e controlar esfíncteres.
A atrofia do córtex cerebral é o dado mais comumente associado à Doença de Alzheimer. O exame de ressonância magnética do cérebro evidencia diminuição do volume cerebral, e em especial da região do hipocampo, nos estados moderados a graves da doença.
Do ponto de vista da idade de início, a Doença de Alzheimer pode ser classificada em pré-senil e senil. Os casos pré-senis são mais raros (10% do total) e estão relacionados a um padrão de transmissão genética autossômica dominante. Os de início tardio (após 65 anos), cuja progressão é mais lenta, são aparentemente esporádicos (o padrão de herança genética é complexo e alguns genes representam fatores de risco) e correspondem a mais de 90% dos casos de Doença de Alzheimer.
O tratamento das demências modificou-se a partir da década de 80, quando foram feitos os primeiros ensaios clínicos para pacientes por elas acometidos, utilizando-se uma substância cujo mecanismo principal de ação é a inibição da enzima acetilcolinesterase, o que torna possível aumentar a concentração de acetilcolina, um dos neurotransmissores envolvidos na fisiopatologia da Doença de Alzheimer. Atualmente são usados, portanto, medicamentos chamados anticolinesterásicos (Donepezil, Rivastigmina e Galantamina) para tratamento das demências. Há ainda um medicamento chamado Memantina, que age sobre a neurotransmissão glutamatérgica, que também está alterada nesta doença.
Além dos medicamentos disponíveis há estratégias de reabilitação, como a Terapia de Orientação para Realidade, em que se usam calendários, agendas e placas para auxiliar na orientação dos pacientes; treinos de atividades da vida diária (AVD); e Terapia de Reminiscências, em que se resgatam memórias ligadas a questões emocionais. Além dessas abordagens, é importante a realização de sessões com familiares, nas quais poderão ser sugeridas formas para lidar com as mudanças de comportamento dos pacientes.
O Vale Verde é uma unidade do Instituto Bairral de Psiquiatria destinada ao tratamento de pacientes geriátricos portadores de déficit cognitivo moderado e grave, sendo que a maioria dos pacientes ali internados é de portadores de quadros demenciais cuja etiologia mais frequente é a Doença de Alzheimer.
A estrutura física do Vale Verde é planejada para o atendimento de pessoas totalmente dependentes para atividades da vida diária, com portas largas para a passagem de cadeiras de rodas, ausência de degraus, quartos e banheiros adaptados.
A equipe multiprofissional conta com médico psiquiatra, médico clínico, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, técnicos e auxiliares de enfermagem e equipe de apoio. O tratamento visa à remissão de sintomas comportamentais das demências (sintomas psicóticos, agitação psicomotora, depressão), estabilização do déficit cognitivo, quando possível, e melhora da qualidade de vida dos pacientes, que enfrentam importantes limitações nesse momento de sua existência. A participação dos familiares é muito importante para o tratamento, e a equipe trabalha no sentido de facilitar a compreensão e a aceitação da doença, além de, sempre que possível, auxiliar a família a se organizar para receber o paciente de volta ao lar.
Autora: Dra. Ana Maria Garcia Mendes Rodrigues
Médica Psiquiatra do Instituto Bairral de Psiquiatria
Deixe um comentário