Uma parte fundamental do tratamento do autismo diz respeito ao diagnóstico precoce e às intervenções decorrentes, que possibilitam uma estimulação da criança ainda pequena com consequente aumento da chance de desenvolvimento de suas habilidades. Basicamente, o tratamento envolve o acompanhamento multidisciplinar (fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicoterapia, psicopedagogia, psiquiatria e neurologia infantil), alocação escolar adequada e o fornecimento de apoio aos pais.
As intervenções psicossociais e educacionais são o tratamento de primeira linha, já que possibilitam o estímulo do desenvolvimento das habilidades sociais e de comunicação e a atenuação dos comportamentos mal-adaptativos.
Em relação à tríade de sintomas nucleares do autismo (prejuízo na interação social, distúrbios da comunicação e interesses restritos), não existe tratamento medicamentoso específico, sendo em geral destinado à redução dos sintomas-alvo que acompanham os sintomas nucleares, ou seja, as medicações são utilizadas visando à atenuação de determinadas características, como agitação, agressividade, impulsividade, comportamentos repetitivos e irritabilidade, que estejam dificultando ou impedindo a inserção dos pacientes em programas educacionais.
Os principais medicamentos utilizados são das seguintes classes: neurolépticos, antidepressivos (inibidores da recaptação da serotonina), estabilizadores do humor, derivados anfetamínicos e antagonistas opióides. Em geral, tais medicações são utilizadas na tentativa de reduzir a agitação, desatenção e comportamentos repetitivos, agressivos, impulsivos e auto-mutilatórios.
As medicações devem ser reservadas para aqueles pacientes que de fato necessitam, já que as mesmas são passíveis de ocasionar diversos efeitos colaterais, sendo papel do médico responsável pelo paciente a ponderação e a avaliação de cada caso previamente à introdução. A monitoração do tratamento medicamentoso deve ser regular e constante.
Existem diversas abordagens não medicamentosas que podem ser utilizadas, como as técnicas comportamentais, a técnica de integração sensorial e o treino auditivo. Na avaliação inicial são estabelecidas metas e frentes de trabalho para a criança, que serão progressivamente trabalhadas.
Atualmente, um dos modelos educacionais mais utilizados para os autistas é o método TEACCH, que tem como características propiciar o desenvolvimento adequado e compatível com as potencialidades e a faixa etária do paciente, aquisição de habilidades, desenvolvimento da autonomia e integração da família com o programa. A partir desse modelo é estabelecido um projeto terapêutico individual para cada criança, com a finalidade de atender suas demandas emergentes, além de estimular suas habilidades e áreas de maior interesse.
Tão importante quanto o tratamento do paciente autista é o cuidado com sua família, que é profundamente afetada pela presença de uma doença crônica em um de seus membros. A comunicação clara entre os entes deve ser estimulada, para que os problemas e angústias sejam expostos e resolvidos. A família do autista passa por um constante processo de adaptação para atender as demandas dessa criança que cresce e transita por outras etapas do desenvolvimento (pré-adolescência, adolescência e vida adulta), sendo que a cada etapa esses familiares lidam com o luto da constatação de que seu filho não virá a ter desenvolvimento semelhante ao das demais crianças da mesma faixa etária.
Autora: Dra. Bruna Antunes de Aguiar Ximenes Pereira
Médica Psiquiatra do Instituto Bairral de Psiquiatria
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