A sexualidade é uma forma de energia que motiva os seres humanos a procurar a satisfação de um desejo ou de um impulso sexual através do contato, do toque, de carícias, de beijos, de prazer, da automanipulação, do bem-estar, do orgasmo, da expressão do afeto, da intimidade, do ser e estar sexual, influenciando tanto os pensamentos quanto a saúde física e mental dos indivíduos. A prática da sexualidade é tão vital para a saúde quanto comer, dormir e fazer exercícios, sendo neste sentido um importante indicador de qualidade de vida.
Percebe-se, portanto, que a sexualidade deve ser compreendida a partir de um enfoque extremamente abrangente, manifestando-se em todas as fases da vida do ser humano, e que, ao contrário do imaginário popular, tem na genitalidade apenas um de seus aspectos, talvez nem mesmo o mais importante.
Entretanto, pouca atenção e reconhecimento têm sido dados ao funcionamento sexual e comportamento reprodutivo de portadores de doença mental grave como a esquizofrenia, por exemplo, como parte igualmente importante dos cuidados em saúde destas pessoas.
Na verdade, durante muitos anos não havia sequer qualquer discussão a respeito da sexualidade de portadores de esquizofrenia. Alguns pesquisadores acreditavam que o “excesso de sexualidade” poderia causar insanidade ou que a atividade sexual poderia estar envolvida na gênese da esquizofrenia. O fato é que, muito embora estas crenças não se sustentem nos dias atuais, pouco se sabe a respeito do funcionamento sexual de portadores de esquizofrenia e a natureza da evolução sexual nestes indivíduos. Os estudos sobre sexualidade em portadores de doença mental grave têm focado mais nos efeitos colaterais dos antipsicóticos e dos antidepressivos, com sub-investigação de outros fatores que poderiam influenciar os relacionamentos afetivos e sexuais nesta população. No entanto, percebe-se que a sexualidade de portadores de psicoses é diversa e rica, variando da ausência de atividade sexual a delírios eróticos, sentimentos de culpa e inadequação a atos sexuais impulsivos com falta de controle sexual.
É fato que as equipes de saúde mental em geral são relutantes em conversar sobre sexo/sexualidade com seus pacientes, sendo este aspecto da vida de doentes mentais crônicos ainda muito negligenciados na maioria dos centros de tratamento. Este desconforto estaria a princípio relacionado à crença dos profissionais da saúde mental de que portadores de esquizofrenia não seriam psicologicamente capazes de manejar tal discussão e o medo de que a abordagem de tal assunto poderia desencadear comportamentos inapropriados.
Barreiras de treinamento de equipes de saúde mental devem ser vencidas e esforços no sentido de incluir a sexualidade nos programas de atenção ao portador de doença mental grave, principalmente esquizofrenia, devem ser aumentados para que este aspecto da vida destes indivíduos também seja trabalhado em busca da melhoria da qualidade vida.
Alessandra Diehl
Psiquiatra, especialista em dependência química e sexualidade humana. Faz parte da equipe de profissionais do MIRANTE, uma das unidades de tratamento do Instituto Bairral de Psiquiatria.
Email:alediehl@terra.com.br
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